segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Mesmo na reserva, goleiro Saulo é ídolo do torcedor do Sport

Boa atuações e até gol marcado marcam a curta carreira do goleiro rubro-negro, que é chamado de 'Avatar', por causa de seus 1.95m.

Mesmo na reserva, Saulo é ídolo do torcedor do
Sport (Foto: Divulgação/Sport)

Na rotina da Ilha do Retiro, fãs são figuras carimbadas em busca de fotos e autógrafos dos ídolos que vestem a camisa do Sport. Como não podia deixar de ser, o craque Marcelinho Paraíba é um dos mais assediados. Símbolos de raça e longevidade no clube, Magrão e Tobi também tem marcação cerrada de admiradores. No restante, titulares passam quase desapercebidos, com tímidos pedidos de tietagem. Mas no meio dessa caçada, os sorrisos de admiração dos rubro-negros voltam no mesmo impacto dos três nomes citados acima.

- Eita, é Saulo, vamos tirar uma foto com ele. Vem corre! Saulo, Saulo! - chamou uma torcedora que estava com os seus familiares, durante a semana, na Ilha do Retiro.

A cena é comum. Jogadores que estão se destacando, simplesmente são renegados a segundo plano pelos tietes quando o goleiro reserva aparece. Aparentemente um mistério, já que as atuações de Saulo são escassas. Magrão é ídolo do tipo que merece uma estátua no estádio e não tem a mínima possibilidade de perder a camisa 1 para seu suplente. Então por que Saulo tem essa identificação com a torcida?

- Quando pude, entrei e fiz boas apresentações, fui ganhando a confiança da torcida. Mas realmente, aquele jogo contra o Vitória, pelo Campeonato Pernambucano do ano passado, foi crucial. A partir dalí, o torcedor passou a ter um carinho imenso por mim - explicou Saulo.

Não foi por menos. No jogo que Saulo citou, ele fez defesas importantes, mas o que marcou foi quando o goleiro saiu do roteiro, foi para área e fez o gol que tirou o Sport de um vexame diante de sua torcida contra o pequeno Vitória. Com 1,95 de altura, foi no embalo dos pedidos da arquibancada, se aventurou no ataque, num dos últimos lances da partida e meteu de cabeça a bola para o fundo da barra. Tudo isso aos 45 minutos do segundo tempo, numa Ilha do Retiro cheia. Logo em seguida, na comemoração, pisou de mau jeito e rompeu o ligamento cruzado do joelho. Contusão para seis meses de molho. Glória e dor em poucos segundos. Salvador e mártir, ingredientes para imortalizar qualquer um.

- Foi inesquecível. Foi uma situação de dois momentos. Marquei o gol, corri eufórico e de repente pisei em falso e senti uma dor. Sabia que era algo grave. Sei que alí foi um divisor - disse Saulo, lembrando do jogo que acabou com o atacante Carlinhos Bala em seu lugar, embaixo da traves, segurando o 2 a 1.
Alagoano da cidade de Piranhas, Saulo é tímido, normalmente olha para baixo, muito também pela sua alta estatura, que o diferencia dos demais. Com 22 anos, tem um jeito de meninão, que não condiz com o ótimo e seguro goleiro quando acionado. É humilde, principalmente quando fala do seu concorrente e ídolo, Magrão.
Saulo é querido pela torcida e lenco do Sport (Foto: Divulgação/Sport)

- Magrão é um espelho, uma referência pessoal e profissional. Me ensinou e me ensina muita coisa. Trabalho para chegar no nível dele. É um ídolo. Sempre fui fã de grandes goleiros. Na infância, Dida era quem eu imitava em Piranhas, Marcos na qualidade de grande pegador de pênaltis, Rogério Ceni na agilidade e Magrão. Só que Magrão é diferenciado, não posso dizer que é perfeito porque todos temos nossas falhas, mas é o que chega mais próximo disso para mim - tietou Saulo, num brilho de olhar a cada citação ao colega. A admiração é genuína.
Apesar da reverência, Magrão é um empecilho ao sucesso de Saulo. Um concorrente duro, pois desde 2005 no Sport, com mais de 300 jogos nas costas e títulos importantes como um pentacampeonato estadual e a Copa do Brasil, o camisa 1 está se transformando em uma lenda no clube. Se manter o nível, só sai quando quiser. Saulo será sempre uma sombra?
- Tenho que ter paciência, tranquilidade, ponho diariamente isso na cabeça. Magrão disse que quer ter mais dois anos até sua aposentadoria. É esperar. Lógico que se ele quiser alongar um pouco mais, terei que procurar o meu espaço em outro canto. Mas é muito tempo e como ele sempre me disse, as coisas mudam muito - afirmou, novamente citando seu tutor, que está com 34 anos de idade.

Pensando no goleiro de qualidade que tem no banco de reservas, o Sport não nega a possibilidade de emprestá-lo para Saulo ganhar mais bagagem. Seu nome esteve envolvido na negociação pelo atacante Guerrón, como moeda de troca. Mas o acordo com o Atlético Paranaense acabou não acontecendo. O técnico do São Paulo, Leão, que trabalhou com o Saulo na Ilha, o indicou como possível reforço para compor o elenco tricolor, durante o estaleiro de Rogério Ceni.
- Fico feliz com os interesses de outros clubes. Estou sendo valorizado. Vi com bons olhos a transferência para o Atletico Paranaense, mas não vingou - frisou.

Saulo tem seis jogos pelo Leão. Estreou em 2010, no empate com o Vera Cruz, na Ilha do Retiro, durante o estadual. Teve boa atuação, substituindo Magrão em cima do jogo, devido a uma lesão nas costas do titular. Teve seu pior momento quando ficou parado seis meses, após o triunfo sobre o Vitória, em 2011.

- Se não fosse a minha família não sei o que seria de mim. Uma tinha morava em Recife e meu deu o maior apoio, proteção, carinho, pois minha mãe ainda morava em Piranhas. Se não fosse por esse apoio, principalmente nos dois primeiros meses, eu estaria perdido, teria entrado em depressão - revelou Saulo, sobre a mesma contusão que agora atormenta seus companheiros de time, os zagueiros césar e Willian Rocha.

Filho de uma enfermeira, Saulo não conheceu o pai. Teve uma origem sacrificada e virou goleiro pela estatura. Atuava num clube amador de Sergipe chamado Coritiba de Itabaiana quando em um torneio em Cascavel, no estado do Paraná, chamou a atenção de olheiros após pegar pênaltis decisivos. Foi oferecido e ficou no Sport a partir de 2006. Subiu em 2010. Morava no clube, o que fez com que virasse torcedor rubro-negro.

- Todo mundo sabe que além de ser jogador, sou torcedor mesmo. Ia direto para as sociais, conheci torcedores, pulava com as músicas da organizada. Me marcou bastante aquela final nos pênaltis contra o Santa Cruz pelo Pernambucano (2006). Estava na Ilha do Retiro. Foi emocionante, tinha acabado de chegar aqui - lembrou Saulo, do famoso jogo em que o atacante Carlinho Bala saiu mandando dedada para os tricolores.

Com cartas e declarações de amor de fãs em redes sociais, Saulo vai ganhando mais séquitos e seguindo com a vida, até uma nova oportunidade. Está voando nos treinos, sendo melhor em várias ocasiões do que Magrão. Tem na paciência seu principal aliado. Tem no seu "inimigo", seu melhor amigo e referência. E mesmo com a admiração geral da torcida rubro-negra, ainda não se considera ídolo.

- Sou um quase ídolo. Tenho que levantar taças, conquistar vitórias, jogar bastante para ter esse direito a ser chamado assim. Ídolo é Magrão. Sou quase - finalizou, como sempre, colocando o mestre no meio do argumento.

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